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42 anos sem Clara Nunes: a voz que eternizou o samba
- Metropolitana Rio
No dia 2 de abril de 2024, completam-se 42 anos sem Clara Nunes, uma das maiores intérpretes da música brasileira. Primeira mulher a se firmar no universo predominantemente masculino do samba, Clara rompeu barreiras e ajudou a transformar o gênero, levando-o para além das rodas e terreiros, conquistando projeção nacional e internacional. Sua trajetória, marcada pela religiosidade, pela devoção às raízes africanas e pela musicalidade única, ainda ecoa forte na cultura popular.
A mulher que fez história no samba
Mineira de Paraopeba, Clara Nunes cresceu envolta na musicalidade regional e iniciou sua carreira interpretando boleros e músicas românticas. No entanto, foi no samba que encontrou sua verdadeira identidade artística. Em 1971, ao gravar o álbum “Clara Nunes”, que incluía a música “Ê Baiana”, sua aproximação com o gênero se consolidou, abrindo caminho para uma revolução dentro do mercado fonográfico brasileiro.
Clara foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias de um disco, um feito inédito até então para uma mulher no samba. Com sua voz marcante e interpretação carregada de emoção, ela se tornou uma referência para gerações de sambistas, ajudando a pavimentar o caminho para outras cantoras que viriam depois.
Uma obra repleta de brasilidade
A discografia de Clara Nunes é uma celebração da cultura afro-brasileira e da diversidade musical do país. Sucessos como O Mar Serenou, Canto das Três Raças, Morena de Angola e Conto de Areia retratam tanto a herança africana quanto a força do povo brasileiro. Seu repertório transitava entre sambas-enredo, canções de terreiro e homenagens a figuras icônicas da música popular brasileira, como os compositores Paulinho da Viola, João Nogueira e Candeia.
Além da sonoridade, sua presença cênica e visual também se tornaram uma marca registrada. Clara incorporava a estética e os elementos das religiões de matriz africana em suas apresentações, utilizando vestimentas brancas, colares e turbantes que remetiam ao candomblé e à umbanda. Isso fez dela uma das grandes responsáveis por popularizar a cultura afro-brasileira no cenário musical.
Curiosidades sobre Clara Nunes
Antes de se tornar cantora profissional, Clara trabalhou como tecelã em uma fábrica de tecidos em Belo Horizonte. Ela foi casada com o compositor e produtor musical Paulo César Pinheiro, que compôs várias de suas canções de maior sucesso. Em 1974, foi a primeira mulher a se apresentar na quadra da Portela, escola de samba do coração da cantora. Seu álbum Alvorecer, de 1974, foi um marco na indústria fonográfica, tornando-se um dos discos mais vendidos do ano. A morte prematura da cantora, aos 39 anos, ocorreu após complicações em uma cirurgia de varizes, causando uma grande comoção nacional.
Legado eterno
Quatro décadas após sua partida, Clara Nunes segue sendo uma referência no samba e na música brasileira. Suas gravações continuam sendo relembradas e regravadas por novos artistas, mantendo viva sua memória e influência. Clara foi mais do que uma intérprete: foi uma porta-voz de uma cultura, de uma tradição e de um povo que encontra na música sua maior expressão de identidade e resistência.
No dia 2 de abril, o Brasil se lembra de Clara Nunes não apenas como a estrela que se foi cedo demais, mas como a mulher que eternizou o samba em sua voz e em seu coração. Seu mar serenou, mas sua arte jamais será esquecida.