DESTAQUES

Dona Ivone Lara: A Dama que Reinventou o Samba

 

No samba, há quem toque, quem cante, quem componha. E há quem transforme. Dona Ivone Lara foi dessas. Nascida Yvonne Lara da Costa, em 13 de abril de 1921, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, ela atravessou quase um século de história e se firmou como uma das figuras mais importantes da música popular brasileira. Por isso era chamada de Rainha do Samba. Ou, como muitos preferem, a Grande Dama do Samba.

Compositora desde menina, cresceu cercada por rodas e batuques. Era sobrinha de Mestre Fuleiro, ligado à escola de samba Prazer da Serrinha, onde começou sua trajetória musical. Mais tarde, faria história no Império Serrano: em 1965, tornou-se a primeira mulher a integrar a ala de compositores da escola, com o samba-enredo “Os cinco bailes da história do Rio”. Um feito inédito até então, num ambiente majoritariamente masculino.

Antes da fama, Dona Ivone conciliava o amor ao samba com a profissão de enfermeira e assistente social. Trabalhou por mais de 30 anos no serviço público de saúde, ao lado da renomada psiquiatra Nise da Silveira. Usava a música como instrumento de cuidado, promovendo oficinas e festas com pacientes psiquiátricos, muito antes de se falar em arteterapia.

Foi só após a aposentadoria, nos anos 1970, que mergulhou de vez na música. E aí não parou mais. Suas composições ganharam o país, na voz de intérpretes como Clara Nunes, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gal Costa. Canções como “Sonho Meu”, “Alguém me avisou” e “Acreditar” viraram clássicos. E sua presença nos palcos passou a inspirar uma geração inteira de mulheres sambistas.

Dona Ivone Lara morreu em 16 de abril de 2018, aos 96 anos. Mas o reconhecimento à sua trajetória continua. Em abril de 2024, foi sancionada a Lei 14.834, que institui o Dia Nacional da Mulher Sambista, celebrado em 13 de abril, data de seu nascimento. Uma forma oficial de lembrar que, se o samba tem rainha, ela veio da Serrinha, compôs com firmeza e cantou com doçura – sem nunca deixar de abrir caminhos.