PERSONALIDADES DO SAMBA
João Nogueira

- Metropolitana Rio
João Nogueira não cantava o Rio de Janeiro — ele contava o Rio de Janeiro. Filho de um advogado e sambista nas horas vagas, cresceu cercado de música e ideias, entre o centro e os subúrbios, entre os salões e as calçadas. Sua obra é uma espécie de diário do carioca comum, onde cabem a fé, o boteco, o futebol de domingo e a saudade do pai. Foi ele quem compôs o clássico “Espelho”, um retrato afetivo de gerações. Também é de João o samba “Poder da Criação”, uma ode à força de transformar dor em melodia, como só os grandes compositores conseguem fazer.
Fundador do Clube do Samba, movimentou a cena nos anos 1970 e 80 e ajudou a devolver o protagonismo aos compositores em um tempo em que o samba resistia à indústria e à pasteurização. João acreditava no poder do coletivo, no valor da roda e na força da canção como crônica — por isso, sua obra atravessa o tempo sem perder o sentido. De alma portelense, fazia do palco uma extensão da rua — e do cavaquinho, um instrumento de poesia e conversa.
João é daqueles que a gente ouve na Rádio Metropolitana Rio FM e sente que está voltando pra casa. Porque o que ele fez foi muito mais do que cantar. Foi escrever a cidade em compasso de samba. E como toda boa crônica, sua música não envelhece — só amadurece com a gente.