PERSONALIDADES DO SAMBA

Zé Ketti

Se você quer entender o que é samba com consciência e coração, escute Zé Ketti. Nascido no Estácio e criado em Oswaldo Cruz, cresceu vendo a cidade dividida entre asfalto e morro — e escolheu cantar os dois. Foi com a caneta firme e o violão simples que compôs “A Voz do Morro”, um hino que, até hoje, emociona quem se reconhece nas ladeiras da vida. Mas Zé também tinha um lado doce, romântico, que aparece em sambas como “Mascarada” e “Diz que Fui por Aí” — sambas que flertam com o lirismo, mas nunca perdem o pé na realidade.

Nos anos 1960, se uniu ao Teatro Opinião, em plena ditadura, e levou o samba para o palco da resistência cultural. Mostrou que o sambista é, sim, um cronista social — e que a poesia popular tem força política. Zé cantava o amor e a dureza da vida com a mesma sensibilidade, construindo uma obra que é, ao mesmo tempo, denúncia e delicadeza. Foi Zé quem abriu portas para que o morro falasse por si, com ritmo, beleza e verdade — sem tradução nem filtro.

Na Metropolitana Rio FM, quando toca Zé Ketti, toca também a memória de uma cidade que aprendeu a se ouvir. E quando a cidade se ouve, ela se reconhece. Porque Zé não apenas cantou o morro — ele deu ao morro um microfone que nunca mais foi desligado.